Creed - A luta pessoal do homem negro pela sua identidade - parte 1
Creed 2 saiu nos cinemas jĂĄ faz algum tempo, mas esta nĂŁo Ă© uma anĂĄlise sob o ponto de vista da crĂtica, mas sim um breve ensaio sobre a construção da masculinidade negra ao longo dos dois filmes.

No primeiro filme pode-se perceber como a perda do pai afeta Adonis, que acaba vendo em seus treinadores a figura masculina que precisa estar lĂĄ para orientĂĄ-lo. Tudo muda, claro, quando Adonis se encontra com Rocky, estabelecendo com ele uma complicada relação "Tio-Sobrinho" que vai se desenvolvendo aos trancos e barrancos atĂ© adquirir consistĂȘncia. Durante este perĂodo, conhece Bianca, uma cantora que estĂĄ sofrendo a perda gradual da audição.
O treino de Adonis no primeiro filme Ă© todo inspirado no treino pouco convencional de Rocky em seus primeiros filmes, como perseguir galinhas, treinar na rua sobre a neve ou subir escadas em ritmos alucinantes. AlĂ©m do fĂsico, Rocky estabelece com Adonis um treino mental que o torna forte em diferentes aspectos, fazendo-o entrar em seu primeiro conflito interno: ele Ă© um Johnson, como a mĂŁe ou deve seguir o legado do pai e ser um Creed?
Quem Ă© Adonis?
Esta busca Ă© o que dĂĄ base para o primeiro filme, este conflito interno de pertencer a dois mundos, mas nĂŁo se sentir parte de nenhum deles. Adonis nĂŁo Ă© o tĂpico jovem de periferia, ele Ă© rico, estudou em colĂ©gios caros, possui um mustang e seu Ășnico contato com o gueto Ă© atravĂ©s do treino de box - o Ășnico legado que o pai deixou.
O mais interessante de Creed é a forma que esse desenvolvimento de Adonis vai acontecendo, pois conforme seu potencial para a luta vai se desenvolvendo, sua personalidade também vai mudando: de um jovem revoltado e agressivo, para um lutador focado e persistente. Mas, ainda assim, de cabeça quente.
Rocky, por outro lado, se mantĂ©m como o velho professor, meio cansado da vida do boxe, mas apaixonado demais para desistir completamente. Mais do que um conselheiro, ele atua como a consciĂȘncia de Creed, fazendo-o raciocinar melhor em suas escolhas e tentar entender o mundo atravĂ©s de seu prĂłprio ponto de vista, ao invĂ©s de se apoiar sempre na figura do pai. Ao mesmo tempo, ele tambĂ©m serve como um livro de histĂłria, como a Ășnica testemunha que conheceu Apolo Creed o suficiente para entender suas motivaçÔes e o que o levariam a desafiar Ivan Drago.
Creed: Nascido para lutar, em resumo, fala do jovem homem negro que cresce sem a referĂȘncia paterna, sem um local de fala e sem uma base masculina na qual se apoiar e que o torna um fantoche social que o molda contra sua real natureza. Uma parte destes homens, claro, conta com o apoio da mĂŁe, do avĂŽ ou de um tio como figura paterna - mas a maioria, uma grande e esmagadora maioria, precisa encontrar o por que de lutar, sem essa referĂȘncia.
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