#SomosTodosMacacos reforça o estereótipo racista e não o orgulho negro
Nesses últimos dias a internet foi tomado por mais um buzz, que movimentou a rede e levantou novamente a discussão sobre o racismo no Brasil: Uma campanha reconhecida pela hashtag #SomosTodosMacacos, aonde várias personalidades famosas apareceram comendo bananas, em alusão ao ato do jogador do Barcelona, Daniel Alves.
Não vou me estender em falar do acontecimento ou sobre oportunismo (ou não) do Luciano Huk, Neymar ou da agência de propaganda Loducca que desenvolveu a campanha. Vou focar no porque essa tag não deveria ter sido criada.
A comparação de negros com macaco foi, por muitos anos, a principal base da argumentação de cientistas evolucionistas racistas pelo mundo todo para defender a sua teoria de que os brancos eram "humanos" e que toda nação Afro tinha em sua estrutura física, indícios da inferioridade intelectual, sendo considerados verdadeiros animais. Isso levou a criarem em vários países zoológicos para exibição de negros - vejam as terríveis fotos abaixo, desses zoológicos humanos
Apesar de terem sido extintos, essa comparação continuou perseguindo toda a raça. Até hoje qualquer criança negra inferior aos 12 anos de idade já recebeu ao menos uma vez o apelido de macaquinho ou macaco na escola, na quadra, na lan house...
Mas e a boa intenção?
Ela é inegável, claro. Mas não justifica um erro colossal como este. Eu não conheci um negro sequer que tenha me dito algo como "todo mundo agora é macaco, que legal...". Não me senti honrado com essa campanha, não senti que eu gostaria que um primo, amigo, filho fosse chamado "carinhosamente" de macaco após ela e nem sei se conseguiria manter a paciência se alguém viesse brincar comigo usando este termo.
Não é a primeira vez que uma tentativa de comoção social sai pela culatra. Lembram do cabelo bombril? E olha, a resposta pra acertar parecia ser uma fórmula simples: não se pode lutar contra o racismo, se armando de um estereótipo dos mais agressivos possíveis.
... é muito MIMIMI, por isso admiro os Judeus!
Li isso discutindo nos comentários de um site sobre esta notícia e é triste notar que Emicida tem total razão quando ele canta "A dor dos Judeus choca, a nossa gera piada", como a própria agência de propaganda disse em comunicado oficial, era um tom irônico apenas.
Mas a forma mais intensa, que conheço, de sofrer racismo é ser negro no Brasil, ponto. Se você é branco, então o que imagina não passa se especulação distante e vaga. Não cabe a nós, nem a ninguém comparar a luta dos Judeus com a luta Afro, principalmente porque Judeu não é raça.
E se alguém admira a história desse povo, pois bem convide-os para um passeio em uma "noite do terror em Auschwitz" ou pergunte o que acha de uma tag #SomosTodosRatos e veja se eles terão essa admiração recíproca. Eu creio que não.
Pare de dar ouvidos cegamente a personalidades como o Neymar
Sei que é difícil dizer isso no país do futebol, em pleno ano de Copa do Mundo, mas é a verdade. Neymar é um ótimo atleta, dos melhores no que faz. Um cara milionário e que deve ser referência pra qualquer um que queira seguir sua carreira. O que não gabarita ele pra concorrer ao prêmio nobel da paz pela luta contra o racismo.
Se você quer mesmo um líder "pensador" sobre o assunto, veja coisas que o Mandela, King, até MV Bill que tem um trabalho exemplar nas favelas. Parem de achar que jogadores de futebol são exemplos de tudo na vida... só porque ele tirou uma foto com uma banana, todo mundo deve se considerar um macaco? Ridículo.
Não que jogadores de futebol não possam ser referências fora de campo, Sócrates já mostrou isso para o povo brasileiro. Já o Neymar JR, por enquanto só mostra o seu talento na bola mesmo.