Ainda existe racismo no Brasil?
Parece bobeira discutir esse tema nos dias de hoje... Racismo Ă© um conceito muito forte, que trĂĄs grandes marcas para a sociedade brasileira que criou tambĂ©m um sentimento de negação. Muita gente prefere ignorar e deixar de lado esse assunto, como se fechĂĄssemos os olhos para uma realidade agressiva.Aquela discriminação direta, aonde as pessoas se julgam superiores e expressam isso de maneira aberta sem nenhum escrĂșpulo, essa nĂŁo existe mais ou existe em casos isolados ou em uma minoria insignificativa. PorĂ©m, o que se desenvolveu no Brasil foi um outro tipo de racismo, dito institucional, conforme declarou o professor Helio Santos, doutor em economia, administração e finanças e militante do movimento negro brasileiro:
Ao contrĂĄrio do racismo individual, que se aproxima do preconceito, quando alguĂ©m se acha superior ao outro por conta de sua raça, o racismo institucional Ă© desencadeado quando as estruturas e instituiçÔes, pĂșblicas e/ou privadas de um paĂs, atuam de forma diferenciada em relação a determinados grupos em função de suas caracterĂsticas fĂsicas ou culturais.Isso resulta em uma mentalidade praticamente cultural, que acaba deixado o negro em situaçÔes menos favorĂĄveis do que brancos.
Parece que o mundo todo observa isso acontecer por aqui, o famoso jornal The New York Times escreveu uma matĂ©ria (aqui) em teu site enfatizando o contraste que Ă©, um paĂs em sua maioria negra, ter como referĂȘncia na moda os modelos do sul – local colonizado por alemĂŁes e outros povos europeus. Em 2008, apenas 28 dos 1.128 modelos eram negros.
Na verdade, olheiros dizem que mais de 70 por cento de modelos do paĂs vĂȘm de trĂȘs estados do Sul que dificilmente refletem o caldeirĂŁo multiĂ©tnico que Ă© o Brasil
O mau hĂĄbito de nĂŁo discutir isso acaba deixando tudo por baixo dos panos… e essa atitude foi amplamente incentivada pelo prĂłprio governo. Na Ă©poca da ditadura, enquanto os negros americanos (atravĂ©s do movimento Black Phanter) chegavam a publicar em seu jornal fatos sobre a repressĂŁo militar no Brasil (edição de 11 de Julho de 1970). Todos aqui acabavam acreditando na propaganda polĂtica com a bandeira de democracia racial.
Partidos Negros, movimentos unificados e vĂĄrias entidades como jornais que falavam da cultura afro brasileira foram fechados e os militantes acusados de serem separatistas, impatriĂłticos e outras coisas do tipo (veja mais aqui)
A Inglaterra passou por isso na dĂ©cada de 90, atĂ© um grande escĂąndalo policial mostrar ao mundo que realmente estavam matando os negros por puro preconceito racial. Esse caso virou notĂcia (aqui) e serviu para abrir os olhos da sociedade inglesa para o que estava acontecendo no seu paĂs.
E por aqui? Vamos dar uma olhada em algumas estatĂsticas:
No perĂodo de 2002 a 2008,segundo dados do “Mapa da ViolĂȘncia 2011”,o nĂșmero de vĂtimas brancas na população brasileira diminuiu em 22,3%;jĂĄ entre os negros,o nĂșmero de vĂtimas de homicĂdio aumentou em 20,2%. Os dados sĂŁo mais dramĂĄticos quando se considera os jovens:o nĂșmero de homicĂdios de jovens brancos caiu,no perĂodo,em 30%,enquanto o de jovens negros cresceu 13%.
EntĂŁo jĂĄ passamos da moda para a violĂȘncia e os negros continuam em desvantagem… o que falta? Sim, a educação, entĂŁo vamos ver como Ă© essa situação.As diferenças referentes Ă educação diminuĂram nas duas Ășltimas dĂ©cadas, mas ainda sĂŁo significativas. Em 1999, a taxa de analfabetismo das pessoas com 15 anos de idade ou mais era de 8,3% para brancos e de 21% para pretos e a mĂ©dia de anos de estudo das pessoas com 10 anos de idade ou mais Ă© de quase 6 anos para os brancos e cerca de 3 anos e meio para pretos – dados do IBGE acessĂveis aqui.
Todos sabemos que um povo sem educação nĂŁo sabe lutar pelos seus direitos, poucos negros acabam tendo visĂŁo de tudo o que acontece com sua prĂłpria raça… se olharmos para a histĂłria do paĂs que Ă© ensinada nas escolas pĂșblicas pouco vamos ouvir sobre herĂłis negros, serĂĄ que eles nĂŁo existiram? Mas claro que existiram, aos montes, porĂ©m estĂŁo escondidos sobre a Ăłtica e a ignorĂąncia de quem acha que discutir o racismo nĂŁo leva a nada.